Carta às Marinas

“Prefiro ser criticada lutando por aquilo que acredito ser o melhor para o Brasil, do que me tornar prisioneira do labirinto da defesa do meu interesse próprio, onde todos os caminhos e portas que percorresse e passasse, só me levariam ao abismo de meus interesses pessoais.”

Marina,

O partido que você agora apoia pode achar que parte do povo é “mal informada” porque vive em “grotões”, mas, por favor, não insulte a inteligência desse povo com palavras vazias e desonestas, na tentativa de resgatar o pouco de dignidade que lhe restou. Ao longo dessa campanha, você mostrou que não tem integridade, e que representa, ironicamente, o que há de mais velho na política brasileira, pois foi movida por motivos puramente eleitorais, abrindo mão de quaisquer ideais que alegava ter.

Sabemos agora que esses ideais não passam de retórica da pior categoria, pois você não pensou duas vezes na hora de abrir mão de cada um deles ao longo dessa vergonhosa campanha eleitoral que culminou com o apoio a um projeto retrógrado, neoliberal, elitista e demagógico. Ficou claro ao longo desses quase dois meses que não lhe importa construir um país mais justo, igualitário, tolerante e sustentável, pois seu desejo de se manter viva nesse jogo eleitoral sujo é bem maior do que sua preocupação com o que pode estar pela frente nesses próximos quatro anos.

Você usa o argumento da alternância de poder e levanta a bandeira da mudança, mas sabe muito bem que não estamos diante da “renovação”, e sim da defesa dos interesses do mercado financeiro, da subserviência às grandes potências, da leniência com a corrupção, da ode a uma ilusória meritocracia e da interrupção de um processo de inclusão iniciado por Lula e levado adiante pela presidente Dilma, a despeito de todos os seus defeitos. Para defender seus interesses eleitorais e conseguir migalhas de um possível governo do PSDB, você abandonou até mesmo o discurso anti-polarização, e teve a coragem de dizer que Aécio “retoma o fio da meada virtuoso”. Não, Marina, foi você que perdeu o fio da meada, e isso não tem nada de virtuoso.

Ao longo de sua contraditória campanha, você não hesitou em tentar arrecadar votos em todos os segmentos da população, entre opressores e oprimidos – religiosos, LGBT, empresários, trabalhadores, agronegócio, ambientalistas –, e mostrou que seu único objetivo foi tentar aproveitar o clima político favorável para se eleger presidente a custo de qualquer coerência, pois qualquer um, “mal informado” ou não, “oriundo de grotões” ou não, sabe que é impossível atender a todos esses interesses. Depois, derrotada, você se despiu das poucas bandeiras que lhe restavam – mas com o cuidado de elencar exigências decorativas que tornassem seu apoio à direita menos humilhante.

Nesse discurso demagógico de declaração de apoio a Aécio Neves, você ousou compará-lo ao ex-presidente Lula. Não, Marina, Aécio não é Lula, e você sabe muito bem disso. Então, por favor, nos poupe dessa tentativa de mostrar-se acima da rivalidade existente entre os projetos políticos do PT e do PSDB, ao tratar a alternância de poder como um benefício irrestrito que prescinde de prioridades e orientação política.

Eu gostaria de pensar que você arruinou sua carreira política ao mostrar não ter qualquer ideologia, mas, infelizmente, não é isso que define o sucesso nessa “profissão”, e acredito que você terá uma longa trajetória defendendo os interesses da elite. Parabéns, Marina: ao invés de criar “a nova política”, você se engajou na velha em sua mais pura essência, traindo todos os seus eleitores que realmente acreditavam em um projeto novo e progressista. É o triste fim de uma bela trajetória; e o início de uma outra Marina: a nova Marina da velha – velhíssima – politicagem.

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